Falta de tempo ou tempo a mais.
Isso nem sequer é o que está em jogo agora.
É outra coisa, é talvez até outra pessoa, não, não é nada disso.
Vive cá dentro, nasceu há muito pouco tempo, e é horrível. Atrapalha tudo o que eu faço, o que quero fazer e o que não quero.
Até aqui eu tinha dentro de mim apenas uma coisa, apenas uma pessoa, uma voz, uma razão, uma só. E agora apareceu esta besta para me matar por dentro. Apresentou-se com o nome de Insegurança. Não é que lhe tenha perguntado o nome, mas enfim há demónios assim, excessivamente simpáticos...
Nunca a convidei para vir a minha casa, no entanto, descobri recentemente que até dorme comigo.
Já a ofendi inúmeras vezes mas ela respondeu que não era assim que se ia embora. Declarei-lhe guerra aberta, vale tudo, agora.
Essa cabra vai pagá-las, ninguém tem o direito de me ofender desta maneira, de entrar pela minha vida a dentro e destruir tudo, sendo tudo o nada em que vivo, porque nada é melhor, no nada, nada se perde, tudo se ganha.
Enfim, às custas disto tenho cometido muitos erros. Se os posso remediar? Posso, é o que vou fazer, aliás é o que estou a fazer!
Peço desculpa, mil vezes desculpa, por ter deixado esta besta falar por mim, ela tem sido a minha voz, e quem sabe até algo mais.
Eu sei, tu sabes, e eu sei que tu sabes e ela sabe que nós sabemos que eu não sou assim, não sou ela, ela nada tem a ver comigo, e nunca teve em mim, até agora.
Assim que ela sair, logo que esta besta se vá embora...
Será tudo diferente!
Adeus, tenho sede, vou beber água!